domingo, 13 de março de 2011

Veias abertas : revelações da escritora chilena Isabel Allende

Cida Laginestra
De Paraty
Isabel Allende é uma das escritoras mais bem sucedidas da literatura latino-americana. Ícone do realismo mágico, tem dezoito livros publicados em mais de trinta idiomas que ultrapassam 56 milhões de cópias vendidas.
Nesta Flip, a autora conversou com o jornalista Humberto Werneck e contou fatos interessantes de sua trajetória como jornalista e escritora. Com muito humor e ironia, falou de sua personalidade forte - é “mandona” e “dominadora”- e de acontecimentos pessoais: da experiência de estar apaixonada aos 45 anos até de como é a vida em uma família numerosa.
Supersticiosa, inicia seus livros sempre em 8 de janeiro. Acende velas e permanece em um recinto escuro para que possa “sentir, ouvir a história e entrar no universo mágico”. Isso acontece desde o lançamento de A Casa dos Espíritos, escrito em 1982, depois de uma pesquisa de quatro anos. Para escrevê-lo se utilizou das cartas que escreveu para seu avô, enquanto convalescia no leito de morte, para retratar os “fantasmas” da ditadura de Augusto Pinochet, no Chile.
Allende diz que todos os livros são ruins no início. “As primeiras páginas são horríveis, depois, aos poucos, vão melhorando e ganhando personalidade. Algumas vezes os erros escapam ao controle. Certa vez, um jornalista me perguntou sobre um personagem que, em um livro, teve a perna amputada e em outro ele aparece sem o problema. Eu havia esquecido”, comenta sem embaraço.
Afirmou que escreveu muitas coisas das quais se arrepende. “Eu escrevi A gorda de porcelana, e ele ficou esquecido. Um editor da Alfaguara acabou achando e o publicou depois que eu já tinha escrito A Casa dos Espíritos. O livro era muito ruim e fiquei com vergonha. Comprei toda a coleção antes que pudesse ser conhecido.”
Ficção que sai do ventre, não da cabeça
A chilena explica que precisa da distância geográfica e temporal para escrever. “No olho do furacão não consigo enxergar nada. O convívio cotidiano com a cultura e a língua são chaves fundamentais. Escrevo ficção em espanhol. Sai do ventre, não da cabeça. Dizem que os autores estão em todos os seus personagens, escrevem a partir da memória e da imaginação”.
Ela revela que o fato de ter sido jornalista a ajudou na precisão da linguagem, além de aprender a investigar e a saber trabalhar sob pressão e contra o tempo, imaginando o leitor, ao mesmo tempo. “Agarrá-lo das primeiras linhas até última página, sem cansá-lo. Só assim a história vale a pena”, disse.
Também confidenciou que era péssima jornalista, que inventava muito e mentia.”Tinha dificuldade em escrever com objetividade.” Num encontro com Pablo Neruda, tentou entrevistá-lo, ansiosa por estar diante de um prêmio Nobel. Foi rechaçada: “não quero que você me entreviste, você é muito ruim como jornalista, invista na literatura”, respondeu o poeta.
Desde os 15 anos se corresponde com a mãe. Guarda as cartas num pequeno quarto, separadas por ano. Não pensa em publicá-las, pois tratam de assuntos íntimos. Feminista, não está em guerra com os homens, muito pelo contrário, mas batalha pelos direitos da mulher e contra a violência.
E para os que estão começando na vida literária, aconselha a escrever todos os dias, a trabalhar as palavras, as histórias: “Escrever não é apenas um hobby”.
Depois de três anos sem publicar - seu último trabalho saiu em 2007, A soma dos dias - lançou agora, na Flip, seu mais recente livro: A ilha Debaixo do Mar.

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