sexta-feira, 17 de março de 2017

Porque tanto ódio?

Esses dias estava conversando, com uma criança que vociferava a palavra raiva, com tanta força que aproveitei a oportunidade para dizer, algo a ela. Após uma descontração da minha parte, ela suspirou aliviada e disse: - Já passou! Inclinei a cabeça em direção àquela menina, mal vestida, magrinha, com um cheirinho característico de uma criança que está descuidada e disse: Querida menina a raiva é uma espécie de doença maligna, quando gruda em seu corpinho, transforma ele com muita sujeira! Então, ela olhou novamente para mim e respondeu: - Tia, tem uma bala? Eu te amo sabia, tia? Rimos as duas por alguns segundos e depois disso fui embora. No caminho de volta do trabalho pude rever toda a minha vida, enxerguei o quão egoísta sou e quanto aquela menina, com toda sua doçura havia me ensinado. Adentrei a porta, Sony veio sorrateiramente a meu encalço lambendo-me os pés com a saudação rotineira de boas vindas. Sentei-me fiz um afago gostoso na minha companheirinha depois fui até o banheiro. Depois de uns minutos ali sentada e ainda em estado de reflexão pelas palavras de Nina, levantei-me abri a torneira da pia e lavei as mãos e o rosto determinada a escrever algo que pudesse tirar aquela cena da minha cabeça. Fui à cozinha Esther já havia deixado os pratos em cima da mesa, retirara-se do recinto assim, que me vira sair do banheiro. Parecia nutrir um ódio mortal da minha pessoa, no entanto eu sabia que no fundo me amava e estava tentando me dar um gelo pela discussão sem sentido que tivéramos na noite anterior. A casa estava silenciosa, Esther trancou-se no quarto parecia chorosa, deprimida. Comi um pouco por causa dos remédios que tomaria em seguida. A carne estava um pouco chegada no sal, mas Esther não estava ali para que eu pudesse dividir minha preocupação boba, contudo a Sony estava me agradando, me cheirando e descobrindo que encontrara-se com alguém diferente. Sony me cheirava muito e parecia intrigada. As palavras da menina Nina pareciam ter vida dentro de mim e fui martelando-as o tempo todo... Em meio a tantos pensamentos fui até o quarto de Esther...
No meio da minha agonia, porém com a certeza que aquelas palavras ganhariam e conquistariam o coração de quem eu mais amava , bem calmamente chamei-a:
- Esther? Esther está acordada? O silêncio dela me sufocava, e eu insisti um pouco , depois mais um pouco e nada. Minha noite parecia chegar ao fim, naquele momento. As pernas pareciam fraquejar e então sentei no chão, encostada na porta e Sony farejando-me e se acomodando nas minhas pernas. Chorei muito por ter sido injusta com Esther por não ter compreendido que ela precisa de espaço e de liberdade. Enterrara minha companheira por causa de meu ódio, de minhas raivas, meus ciúmes e minha cegueira. Ela era tudo o que eu tinha de bom, todos reconheciam o quanto ela era dedicada, mas só eu que não enxergava isso! Resignada porque bati fortemente na porta e ela não atendera. Levantei do chão, resignada praticamente ordenei que abrisse a porta do quarto, mas em vão. Perdi a cabeça e esmurrei a porta de forma violenta, a porta arrebentara-se diante da força que fiz e qual não foi a minha surpresa, Esther estava dopada, deitada no chão já agonizando. Naquele momento fiquei cega, gritei a Deus e a todos os Santos, peguei o celular liguei para emergência pedi perdão por tudo, gritei para que ela não fosse embora, gritei apavorada e alguns vizinhos ouviram. Quando o carro da emergência chegou levaram-na, dona Quitéria ficou com a Sony e eu fui junto a Esther para o Pronto Socorro mais próximo. Ali deitada já sem vida, com olhos arregalados pareciam felizes, queriam me dizer algo. Assim que os paramédicos a entubaram, Esther teve uma parada cardíaca e morreu ...
Não tenho resposta para essa pergunta, mas o bilhete que ela deixou sim!
Querida Lourdes,
Vou me despedir de você! Porque minha dor é maior que posso suportar, a gente vive amando demais, se perdendo demais e querendo demais e a gente não se dá conta que tudo que é demais não presta! Deixei de viver mas não foi pelo seu ciúme, nem pelas coisas que as vezes você me dizia, deixei de viver porque não aguentava mais as pressões que estava sofrendo. Não se sinta culpada! Você é um doce de pessoa! Você é uma mulher maravilhosa!
Meu tempo aqui , acabou... Continue fazendo pessoas felizes e liberte-se do ódio que aprisiona as almas, a mim ele aprisionou!
Esther

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